
Foi assinado ontem, 12 de junho, o contrato de aquisição pelo CTI Aeroespacial do primeiro satélite SAR de uso nacional e que será operado pela Força Aérea Portuguesa.
Nas instalações da Força Aérea em Monsanto foram formalizados os dois primeiros passos que vão permitir robustecer a Constelação do Atlântico, e a projeção da Força Aérea para o Espaço.
O CTI Aeroespacial – um centro de tecnologia e inovação fruto de uma parceria entre a Força Aérea, o CEIIA e a GEOSAT – assinou com a ICEYE, líder global em tecnologia de satélites de radar de abertura sintética (SAR), a aquisição de um satélite SAR, com recurso a verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que vai permitir observar a Terra independentemente das condições meteorológicas.
Este será o primeiro satélite SAR da Constelação do Atlântico, um projeto de Portugal e Espanha, que no futuro contará com 26 satélites - 12 satélites SAR e 14 satélites óticos -, com imagens de alta e muito alta resolução, com revisita intradiária, permitindo uma observação e monitorização do nosso planeta a partir do Espaço.
Para além da formalização do contrato, foi ainda assinado entre aquelas entidades um memorando de entendimento estratégico que vai permitir o suporte técnico para, no futuro, Portugal deter capacidade própria para a produção daqueles satélites.
A cerimónia, que contou com a presença do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), General João Cartaxo Alves, João Rebelo, Presidente do CTI Aeroespacial, José Rui Felizardo, Diretor Executivo do CEIIA, Rafal Modrzewski, Diretor Executivo da ICEYE, e de Guido Levrini, Gestor de Programas Sénior da Agência Espacial Europeia, foi apelidada pelo CEMFA como um ato histórico para Portugal e para a Força Aérea em particular, pois foram dados os passos certos para a nível nacional se garantir a capacidade própria de produção de satélites, anunciado à plateia o que se perspetiva no futuro: a edificação de um hub aeroespacial nas instalações da Força Aérea em Alverca que vai reunir militares e civis, profissionais do tecido empresarial português e académicos, colocando Portugal bem posicionado para se tornar referência mundial na exploração espacial.
Nas palavras do CEMFA, “esta inovação tecnológica reforça a capacidade autónoma de Portugal para uma vigilância permanente do seu território, em terra, no mar e no ar, apoiando igualmente a gestão de emergências, a sustentabilidade, inovando em tecnologia, reforçando a indústria e estimulando principalmente a nossa economia”. E acrescentou que este passo “vai criar valor para a economia nacional e projetar Portugal como uma referência na nova economia espacial, num momento crítico para a construção de uma Europa mais resiliente e tecnologicamente mais robusta”.
Rafal Modrzewski, Diretor Executivo da ICEYE, destacou a assinatura do memorando de entendimento “não apenas sobre o crescimento da constelação, mas também sobre trazer a tecnologia para Portugal, desenvolver essa tecnologia mais juntos, ensinar a geração jovem de engenheiros portugueses e europeus a serem capazes de sonhar como nós sonhamos e alcançar missões valiosas e emocionantes no futuro”. Sobre a importância desta nova capacidade, recordou que “muitas vezes pensamos que a única fronteira europeia é a fronteira oeste. Isso não é verdade. As nossas fronteiras estão na verdade por toda a Europa. Então faz-me muito feliz ver que estamos a reconhecer essa realidade e a trabalhar juntos para garantir que estamos a proporcionar segurança europeia não apenas de um lado mas também na perspetiva 360º, pois é isso que acontece na situação atual”.
Já Guido Levrini, Gestor de Programas Sénior da Agência Espacial Europeia, aproveitou o momento para recordar que “vivemos em tempos de guerra e as ameaças estão próximas de nós, como nunca. Estes são, digamos, novos tempos, tempos em que o antigo equilíbrio e ligação não é mais válido, e nós, como europeus, somos solicitados a realizar uma mudança histórica. Gostaria de congratular Portugal porque, com esta assinatura, com este evento, vocês estão a mostrar que estão prontos e a seguir caminho nessa direção”.
A Força Aérea tem apostado no desenvolvimento de novas capacidades aéreas e espaciais, através de parcerias estratégicas, nomeadamente com o CEIIA, através do CTI Aeroespacial, e em estreita colaboração com a Base Tecnológica e Industrial de Defesa, com particular relevo em projetos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (ID&I), apoiados por financiamento do PRR.
O passo agora estabelecido vai ao encontro da estratégia definida de conquista de novas capacidades. Tal como o CEMFA explicou, “a Força Aérea está em mudança, conforme o Plano de Voo “Força Aérea 5.3” apresentado no ano passado, que visa a conquista do 5.º Domínio Operacional – o Espaço. Para além do contributo fundamental do domínio aéreo, o sucesso da Segurança e Defesa de Portugal só podem ser alcançados através da ação integrada de múltiplos domínios operacionais, dos quais se incluem o Ciberespaço e o Espaço. A visão da Força Aérea visa empregar o poder aeroespacial para potenciar o cumprimento das missões atribuídas e dotar a Força Aérea com capacidade de monitorização que garanta o conhecimento situacional e o controlo da utilização do espaço nas áreas de interesse nacional, no âmbito da Segurança e Defesa, simultaneamente fomentando o desenvolvimento e a integração de novos processos, serviços ou produtos baseados em conhecimento científico e tecnológico e de elevado valor acrescentado”.
Como parte dessa Estratégia, recorde-se que em 25 de setembro de 2024 foi inaugurado o Centro de Operações Espaciais da Força Aérea, com a missão de exercer a vigilância, o conhecimento da situação espacial de interesse e o apoio espacial ao planeamento e execução das missões atribuídas à Força Aérea.